E QUANDO “DEUS” FALA…

O presidente do MPLA, general João Lourenço, lamentou hoje as especulações à volta da realização do VIII congresso extraordinário do partido, a 6 e 7 de Dezembro, mas diz que demonstram a sua importância para a sociedade angolana. Consta que este lamento público se deveu aos conselhos do Presidente da República, do Titular do Poder Executivo e do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas…

O “querido líder”, quando falava na abertura do da reunião do Conselho de Honra, disse: “Muito se fala e se especula sobre os propósitos e fins da realização deste congresso extraordinário, como se os nossos estatutos não admitissem essa possibilidade, sempre que fosse necessário, quando na verdade não é o primeiro na história do nosso partido, mas o VIII extraordinário”. Sendo o VIII, entendam os militante do MPLA, ainda não precisam de se descalçar. Isso só é um problema para vocês quando a conta for superior a… 10.
Segundo o general João Lourenço, essas especulações só vêm demonstrar a importância que o partido tem na sociedade angolana, “não deixando ninguém indiferente sempre que nos reunimos para analisar a nossa vida interna, e a situação política, económica e social do país”.

“Coisa que o fazemos com a maior abertura possível, porque não somos nenhuma organização clandestina”, disse o general João Lourenço, frisando que as decisões dos congressos do partido são públicas e do conhecimento dos cidadãos angolanos, e tratando-se de congresso estatutário, têm o dever de protocolarmente (e para inglês ver) prestar informação posterior às competentes instituições do Estado, nomeadamente ao Tribunal Constitucional.

O general João Lourenço disse que a reunião vai abordar diversas matérias, desde a preparação do congresso extraordinário do partido, que se realiza em Dezembro deste ano, ao programa das comemorações dos 50 anos da independência nacional, entre outros. Ficou por saber se o MPLA vai, ou não, declarar o Comité Nobel Norueguês “persona non grata” por, até agora, nunca ter atribuído o Nobel da Paz a nenhum dos três últimos Presidentes do partido (Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço).

O DDT (Dono Disto Tudo) como é popularmente conhecido, referiu que o MPLA precisa de reflectir sobre o seu passado de luta e de vitórias, mas sobretudo sobre o rumo a seguir no futuro. No dossier “lutas e vitórias” constará o emblemático genocídio de 80 mil angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977, ordenados pelo “deus” do MPLA, António Agostinho Neto?

O líder do MPLA destacou o contributo “e entrega total” dos membros do Conselho de Honra para o alcance da independência nacional, frisando que 2025 está próximo, altura em que se vai comemorar os 50 anos da independência e, é claro, provar que o MPLA fez mais em 50 anos do que os portugueses em 500.

De acordo com o presidente do MPLA, ao longo dos 50 anos, os angolanos (os do MPLA, entenda-se) souberam consolidar esta conquista da independência e soberania nacional, “abrir o país à democracia multipartidária, à economia de mercado, fazer a paz e a reconciliação nacional entre irmãos, filhos da mesma mãe, Angola”.

O general João Lourenço salientou que os desafios de hoje estão na necessidade do fortalecimento da economia para garantir maior oferta de bens essenciais de consumo (20 milhões de pobres), de serviços públicos, maior acesso aos cuidados de saúde (extinta pelos portugueses a malária voltou em força), à educação e ensino (cinco milhões de crianças fora do sistema), maior disponibilidade de oferta de habitação e de emprego.

Atenção especial está a ser dada, propagandeia o general João Lourenço, à agro-pecuária, acrescentando que o Executivo (do MPLA há 49 anos) tem vindo a estimular a produção nacional.

Além do programa de comemorações dos 50 anos de independência, será também apresentada uma informação sobre a segurança alimentar versus produção nacional, contando com as contribuições dos conselheiros sobre estas matérias.

O Conselho de Honra é um órgão de consulta do presidente do MPLA, em decisões de importância nacional, composto por 39 membros e que, por regra, têm uma alimentação frugal: Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de Château-Grillet 2005.

Entretanto, certamente só para azucrinar o general João Lourenço, o Grupo de Acção Financeira (Gafi), uma organização que luta contra o branqueamento de capitais, anunciou hoje que incluiu Angola na sua “lista cinzenta”, como é conhecida a relação de países que ficam com monitorização reforçada pela entidade.

O anúncio foi feito pela presidente do Gafi, Elisa de Anda Madrazo, no final de uma reunião plenária em que sublinhou que “o processo de inclusão na lista (cinzenta) não é uma medida punitiva”.

“Pelo contrário, trata-se de orientar os países na via da melhoria. Todos estes países trabalharam activamente com os respectivos organismos regionais e com o Gafi para desenvolver um plano de acção”, acrescentou.

Além de Angola, foram integrados na “lista cinzenta” a Costa do Marfim, Argélia e Líbano.

Esta foi a primeira reunião plenária do Grupo, sob a presidência de Anda Madrazo, e nela participaram representantes de mais de 200 membros da rede mundial e de organizações observadoras, incluindo o Fundo Monetário Internacional, as Nações Unidas, o Banco Mundial, a Interpol e o Grupo Egmont de Unidades de Informação Financeira.

O Gafi explica no seu portal que quando coloca uma jurisdição sob monitorização reforçada, isso significa que o país se comprometeu a resolver rapidamente as deficiências estratégicas identificadas dentro dos prazos acordados e está sujeito a uma monitorização reforçada.

Em Julho do ano passado foi dada a Angola a oportunidade de durante 2024 mostrar que estava a seguir as recomendações do GAFI e evitar entrar na lista “cinzenta” com consequências no acesso a divisas e transacções financeiras.

Nessa altura, Ludmila Dange (administradora executiva da Comissão do Mercado de Capitais (CMC), disse tratar-se de uma corrida contra o tempo.

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